Rombo fiscal ditará campanha eleitoral e ações do próximo presidente

06/08/2018

O déficit fiscal, que apresentou crescimento de 46% desde 2014, será a principal pauta das eleições deste ano e o desafio mais premente do próximo presidente da República. A afirmação é do analista político, Rui da Silva Nogueira, da Patri Políticas Públicas, que participou da Reunião Plenária da Abinee, realizada na quinta-feira (2). “Qualquer promessa dos candidatos estará condicionada a isso. É uma brutal camisa de força”, disse.

Esse cenário exigirá que o eleito seja pragmático para lidar com a questão orçamentária e “sádico” na busca de receitas extras, o que poderá acarretar uma reforma tributária que mantenha a carga e a tributação “do andar de cima”, como grandes fortunas e heranças. O analista afirmou também que a PEC do Teto deve ser revista. “É preciso descarimbar o orçamento. A PEC foi necessária, mas do jeito que está não funciona. Ou se altera isso ou o governo não terá como pagar seus compromissos”, disse.

Nogueira afirmou que o cenário eleitoral ainda é incerto e que a maioria dos eleitores não definiram seu candidato. Ele classificou os presidenciáveis em quatro grupos. No primeiro está o ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas, apesar de preso. Na sequência estão Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Marina Silva, candidatos com dois dígitos, que podem garantir a ida ao segundo turno. No terceiro grupo aparecem Geraldo Alckmin e Álvaro Dias, que tentam atingir os dois dígitos. Por último estão os candidatos Henrique Meirelles, Manuela D’ávila e Guilherme Boulos, com menos de 1% das intenções de voto.

No Congresso, a tendência é de baixa renovação. Segundo Nogueira, as recentes reformas promovidas no sistema político – com proibição do financiamento privado de campanhas e criação de um fundo especial – contribuíram apenas para a manutenção do status quo, com maior concentração de poder nas mãos do chamado “centrão”, disputado pelos principais candidatos e que agora está mais próximo de Geraldo Alckmin.

Segundo ele, o final do governo Temer após as eleições, pode reservar surpresas. Na sua avaliação, o atual presidente perdeu a capacidade ofensiva de implementar as reformas prometidas após o episódio com o empresário Joesley Batista, somado ao aumento do desemprego no País. No último período de seu governo algumas pautas-bomba podem surgir, como as discussões sobre a Lei Kandir (compensação aos Estados pela União da desoneração do ICMS sobre exportações), o transporte de carga, o IPI para refrigerante na Zona Franca de Manaus. “Quem achar que não vai acontecer nada pode levar bola nas costas”, salientou.