05 dez Fabricantes em alerta para possível crise de chips de memória – Valor Econômico – 05/12/2025
O aumento dos preços de chips de memória no mercado global, provocado pelo salto de demanda de servidores para “data centers” de inteligência artificial, e o risco de escassez destes componentes são motivos de preocupação da indústria brasileira de eletroeletrônicos.
Na semana passada, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) se reuniu com fabricantes dos setores de informática e de celulares para discutir o impacto de uma possível restrição da oferta de chips de memória ao mercado brasileiro, disse o diretor Informática da Abinee, Mauricio Helfer, a jornalistas, nesta quinta-feira (4).
“Pelas perspectivas, já é algo que possa impactar [o mercado de informática e celulares]”, disse Helfer. “Realmente, é uma situação bem complexa e vai ser talvez um grande desafio que nós teremos em 2026.”
Os produtos mais importados pela indústria brasileira este ano foram os semicondutores (US$ 6 bilhões), sendo a maior parte das importações do setor (45%) proveniente da China.
A crise no mercado de chips de memória se reflete nos preços de computadores e dispositivos móveis. As vendas de computadores de mesa terão queda de 35% em 2025, em base anual, somando 1,95 milhão de unidades. O volume de notebooks (5,71 milhões de unidades) não cresceu este ano e o de tablets (3,71 milhões) avança 3%.
Em celulares, o mercado ainda enfrenta o desafio dos aparelhos contrabandeados, que responderão por 12% das vendas, ou 4,5 milhões de unidades este ano, recuo ante a participação de 19% em 2024, segundo dados da IDC. “O aceitável é que esse índice [de aparelhos contrabandeados] seja zero”, disse o diretor de dispositivos móveis de comunicação da Abinee, Luiz Claudio Carneiro.
Segundo ele, a “resistência” de marketplaces em retirar anúncios de aparelhos importados ilegalmente, é o maior entrave do setor. “Quando o marketplace decide judicializar a questão, sinaliza que não quer cumprir as regras”, disse o diretor.
O mercado legal deve vender 31,9 milhões de celulares em 2025, queda de 1,9% em base anual.
O setor também está apreensivo com o prazo de validade da medida provisória que criou o Regime Especial de Tributação para Serviços de Datacenter (Redata), até fevereiro. O Redata prevê isenção de impostos como PIS, Cofins e impostos de importação para equipamentos voltados a centros de dados sem similar nacional a partir de 2026.
A Abinee defende junto ao governo que as isenções fiscais para chips importados não prejudiquem a indústria local. “Acho que muitos interlocutores têm trazido que o Redata pode se tornar um extrativismo digital”, disse o diretor de Informática, Abinee, Maurício Helfer.
A indústria eletroeletrônica brasileira encerrará 2025 com faturamento de R$ 270,8 bilhões, um crescimento real de 4% em relação a 2024. Em 2026, o setor prevê faturar R$ 289 bilhões, um crescimento real de 3%.
Para o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, o desempenho de 2025 “foi bastante razoável”, embora as taxas de juros altas tenham provocado “um certo arrefecimento tanto em empregos como em faturamento”.
Os investimentos da indústria somaram R$ 4,7 bilhões em 2025, alta de 9% ante 2024.
As importações cresceram 3%, somando US$ 49,1 bilhões em 2025, ante 2024. Neste intervalo, o mercado brasileiro exportou US$ 7,9 bilhões, alta de 3% na comparação anual.
Os Estados Unidos foram o principal destino das exportações da indústria brasileira de eletroeletrônica, correspondendo a 26% do total do setor. O efeitos do tarifaço aplicado por Donald Trump ainda não foram sentidos por uma antecipação de embarques antes da aplicação das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA, informou Barbato. “Daqui para frente, acontecendo a manutenção do tarifaço, isso pode gerar maiores dificuldades”, ponderou.