Economia fraca reduz espaço para repasses da alta do dólar – Folha de S. Paulo

04/05/2018

Joana Cunha/Nicola Pamplona
SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO

A economia ainda fraca tende a impedir que a indústria e o varejo repassem a alta do dólar aos preços dos produtos.

Entre os principais itens com insumos cotados na moeda estrangeira, poucos já estão sensíveis ao patamar de R$ 3,53 desta quinta (3)

Mesmo com o aumento dos custos em dólar, a disposição para subir preços fica comprometida numa economia vacilante, diz Mauro Rochlin, professor da FGV. Para não perder vendas, indústria e varejo sacrificam as margens de lucro, mantendo um preço que o consumidor aceite pagar, segundo Fabio Pina, economista da FecomercioSP.

“Não há como aumentar o preço agora sem ter baque na demanda. O varejo e a indústria perceberam que a recuperação está bem mais lenta do que se esperava. Vão segurar ao máximo antes de aumentar preço”, diz Thiago Berka, economista da Apas (associação paulista de supermercados).

As proteínas animais poderiam ser afetadas pelo câmbio, mas os embargos que a carne brasileira tem sofrido no exterior contribuíram para inundar a oferta do produto no mercado doméstico, inibindo reajustes, diz Berka.

Nathan Herszkowicz, diretor da Abic (associação da indústria de café), também não estima preços mais altos no momento. Ele lembra que, após uma alta expressiva no valor do café nos últimos anos por efeito da seca, os preços vinham na direção inversa, voltando a um nível normal.

Outra categoria que poderia sofrer com o dólar alto, por ser dependente de derivados de petróleo, é a de artigos de higiene e limpeza. “Historicamente, porém, o câmbio só afetar o preço dos produtos de higiene quando passa de R$ 3,60”, diz Berka.

Fabricantes de eletrônicos também “não veem um ambiente que permita aumento de preços”, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee.

Nos remédios, que têm preços controlados pelo governo, também não dá para repassar o câmbio de maneira instantânea, segundo Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma (sindicato do setor). “Para nós é um desastre, porque 95% da matéria-prima é importada. Não podemos repassar, e isso afeta os investimentos, obriga as empresas a cortar nas demais despesas.”

O cenário, porém, é diferente para o trigo, muito sensível à variação cambial e que afeta a cadeia de alimentos a base de farinha, como pão e macarrão. Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo (indústria do trigo), diz que os preços de seus derivados vão subir.

“Importamos mais da metade do trigo consumido. O trigo nacional também subiu e não há disponibilidade, por isso o preço aumentou aqui dentro.” Segundo Barbosa, só haverá maior volume de trigo para abastecer o mercado interno a partir de setembro.

COMBUSTÍVEIS

Nos combustíveis, o repasse é imediato, já que, desde julho de 2017, a Petrobras tem feito reajustes diários com base nas variações do câmbio e das cotações internacionais. Embora o preço da gasolina tenha atingido o maior patamar desde que a Petrobras iniciou essa política, o repasse ao consumidor tem sido compensado pela queda do preço do etanol anidro.

Nesta sexta (4), a Petrobras venderá gasolina a R$ 1,8095 por litro, recorde da nova política de preços. Em um mês, o combustível acumula alta de 9,1% nas refinarias.

Nas bombas, porém, a evolução é menor. Nas quatro semanas encerradas em 28 de abril, último dado disponível pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), a alta acumulada era de apenas 0,2%.

 
 
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