Avaliação Conjuntural do Setor Eletroeletrônico- 2º Trimestre/2023
Atividade
O faturamento nominal do setor eletroeletrônico recuou 7% no 1º semestre de 2023 comparado com o mesmo período do ano passado.
Destaca-se que essa retração foi resultado da queda de 5% no 1º trimestre e da redução de 9% no 2º trimestre de 2023, sempre comparados aos iguais períodos de 2022.
Vale lembrar que esse esfriamento da atividade já vem sendo observado desde o 4º trimestre do ano passado.
As incertezas tanto no cenário interno quanto no internacional vêm inibindo os investimentos e paralisando os negócios, acarretando em queda em quase todas as áreas do setor.
Vale destacar que a retração no 2º trimestre deste ano (-9%) foi mais expressiva do que a verificada no 1º trimestre (-5%).
Este comportamento aconteceu mesmo com o abrandamento observado nos últimos meses das dificuldades decorrentes da falta de matérias-primas e de semicondutores no mercado e de gargalos logísticos.
Os reflexos do esfriamento da atividade podem ser verificados nos diversos indicadores do setor.
Conforme dados do IBGE agregados pela Abinee, a produção industrial do setor eletroeletrônico caiu 11% no acumulado do 1º semestre de 2023 em relação ao igual período de 2022.
A retração apontada no 2º trimestre deste ano (-14%) foi mais significativa do que a queda observada no 1º trimestre (-7%).
Notou-se ainda que o fraco desempenho da produção da indústria eletroeletrônica verificado no 1º semestre de 2023 foi resultado das quedas tanto da área elétrica (-12%), quanto da área eletrônica (-10%).
A utilização da capacidade instalada caiu de 76% no final de dezembro de 2022 para 74% em março e para 73% em junho de 2023. Neste caso também observou-se redução desde o último trimestre de 2022. Vale lembrar que em setembro do ano passado, a utilização da capacidade instalada estava em 80%.
No mês de junho de 2023, o número de empregados da indústria elétrica e eletrônica, conforme dados do Novo Caged, diminuiu 971 postos de trabalho, totalizando 267,3 mil funcionários diretos. Esta foi a quarta retração seguida. Lembrando que essas quedas representam o saldo, ou seja, a diferença entre admissões e desligamentos.
Vale observar que, depois de quatro recuos consecutivos, o total de funcionários da indústria eletroeletrônica voltou ao patamar registrado em dezembro de 2022 (267,3 mil trabalhadores), anulando os crescimentos apontados nos dois primeiros meses deste ano.
Porém, mesmo com estes resultados, o número de funcionários do setor permaneceu acima do registrado em junho de 2022, período em que o setor empregava 266,5 mil trabalhadores diretos.
Já as exportações vêm contribuindo com a atividade do setor, com elevação de 6% no 1º semestre de 2023 em relação ao igual período no ano passado, totalizando US$ 3,4 bilhões. Esse resultado foi consequência da elevação de 8% no 1º trimestre e do aumento de 5% no 2º trimestre, comparados aos mesmos períodos de 2022.
As importações totalizaram US$ 21,5 bilhões no acumulado dos seis primeiros meses deste ano, resultado 2% abaixo do atingido no 1º semestre de 2022. Neste caso, a retração de 2% foi influenciada pela queda de 5% no 1º trimestre, visto que as importações cresceram 2% no 2º trimestre de 2023, também comparados aos iguais períodos do ano passado.
Desempenho por áreas
Ao avaliar o comportamento da indústria eletroeletrônica no 1º semestre de 2023 por áreas, nota-se que a maior parte dos segmentos do setor apontaram resultados desfavoráveis tanto no 1º trimestre quanto no 2º trimestre.
As reduções mais expressivas observadas no 1º semestre deste ano foram das áreas de Telecomunicações (-22%), Informatica (-18%) e Componentes Elétricos e Eletrônicos (-17%).
Destaca-se que as quedas no faturamento nominal destas três áreas foram influenciadas pela retração da demanda diante de um cenário de incertezas e também pela redução de preços verificada neste período.
Além disso, foi observada uma mudança no mix de produtos, ou seja, os consumidores, que estão mais retraídos, passaram a comprar aparelhos com menor capacidade, menos recursos e, portanto, com preços mais baixos.
Dessa forma, nota-se que as quedas no faturamento nominal dos bens de informática e de celulares foram bem mais expressivas do que as retrações em unidades.
Conforme dados do IDC, o mercado de bens de informática recuou 12% em unidades no 1º semestre de 2023 em comparação com igual período do ano anterior, sendo que os notebooks (-15%) atingiram 2,8 milhões de unidades, os desktops (-4%) somaram 919 mil unidades, e os tablets (-11%) 1,1 milhão de unidades.
No caso de bens de informática, é importante lembrar que essa queda aconteceu após crescimentos expressivos verificados nos últimos anos, que foram estimulados pela necessidade de se atender às demandas de home office e do ensino a distância decorrentes da pandemia de Covid-19.
O faturamento da área de Telecomunicações caiu 22% no 1º semestre de 2023 em relação ao igual período do ano passado decorrente da queda de 28% no faturamento de telefones celulares e da retração de 11% no segmento de infraestrutura.
O mercado de telefones celulares, conforme os dados do IDC, atingiu 17,1 milhões de unidades no 1º semestre do ano, 17% abaixo do resultado verificado no 1º semestre de 2022.
A retração no faturamento da área de Componentes (-17%) foi influenciada, principalmente, pela retração da demanda de bens de Informática, de celulares e de outros setores que utilizam componentes eletrônicos na sua atividade produtiva, além da já citada queda de preços.
As incertezas dos empresários do setor também afetaram o desempenho das áreas de Equipamentos Industriais (-1%) e de Material Elétrico de Instalação (0%), que registraram resultados próximos da estabilidade.
Por outro lado, foram observados crescimentos significativos nas áreas de Automação Industrial (+22%), Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica – GTD (+15%) e Utilidades Domésticas (+11%).
O crescimento de 22% da área de Automação Industrial contou com projetos que já haviam sido iniciados nos últimos anos, decorrentes, principalmente, da digitalização da indústria e da busca de maior eficiência de diversos setores da economia.
O resultado positivo da área de GTD foi estimulado pelos segmentos de Geração e Transmissão. No primeiro caso, a Geração continua sendo beneficiada pelos investimentos em energia eólica e fotovoltaica e os negócios na Transmissão permanecem contando com os leilões ocorridos nos anos anteriores. Neste último caso, os leilões do ano passado e deste ano deverão gerar negócios para os próximos 2 e 3 anos.
Já o segmento de Distribuição vem passando por um momento de redução de pedidos, alteração de contratos e perda de negócios que deverão reduzir significativamente a demanda de produtos prevista para o 2º semestre de 2023.
O resultado da área de Utilidades Domésticas (+11%) foi favorecido pela base fraca de comparação, lembrando que o faturamento destes bens havia recuado 13% no 1º semestre do ano passado.
Perspectivas
Mesmo com o abrandamento de algumas dificuldades enfrentadas pelas empresas do setor, principalmente no que se refere à falta de insumos, componentes no mercado, redução de custos e gargalos logísticos, o empresário do setor permanece com muitas incertezas.
A cautela do empresário do setor também pode ser verificada pelo Índice de Confiança do Empresário Industrial do setor eletroeletrônico que, desde o final do ano passado, vem oscilando próximo da linha divisória de 50 pontos, que separa a confiança da falta de confiança.
Mesmo assim, as expectativas são de melhora no desempenho da indústria eletroeletrônica para os próximos meses.
Normalmente a atividade do setor costuma ser mais aquecida no 2º semestre do ano. Lembrando também que as empresas fabricantes de bens de consumo podem contar com datas que estimulam as vendas, tais como Black Friday e Natal.
Além disso, outros fatores podem ajudar a aumentar a confiança do empresário do setor, tais como a queda da inflação verificada nos últimos meses, a sinalização do Banco Central de cortes na taxa de juros e a aprovação da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados, que deverá simplificar o complexo sistema tributário brasileiro.
Porém, por enquanto, os dados apurados nas sondagens de conjuntura realizadas pela Abinee mostram que a piora nos indicadores registrada nos últimos levantamentos vem influenciando negativamente as expectativas dos empresários do setor.
Com isso, nota-se que vem caindo o número de empresas pesquisadas que projetam crescimento para 2023 em relação a 2022, que chegou a atingir 72% em fevereiro e diminuiu para 46% em julho de 2023.
Ainda para 2023, 21% esperam estabilidade e 33% estão prevendo queda.
Com isso, o faturamento da indústria eletroeletrônica deverá recuar 6% em 2023, totalizando R$ 205 bilhões.
Essa estimativa para o ano 2023 foi mais pessimista do que a projeção anterior de estabilidade que havia sido divulgada no final do 1º trimestre deste ano.
A produção industrial do setor eletroeletrônico deverá cair 2%.
Já as exportações deverão crescer 5%, atingindo US$ 7 bilhões, e as importações devem permanecer em US$ 45 bilhões, mesmo resultado apontado no ano passado.
Dessa forma, o déficit da balança comercial de produtos do setor deverá diminuir 1% neste ano, somando US$ 38 bilhões.
O número de empregados no setor deverá totalizar 270 mil trabalhadores no final de 2023, acréscimo de 1% em relação ao ano passado (267,3 mil).
A utilização da capacidade instalada encerrará o ano em torno de 75%, um ponto percentual abaixo registrado no final de 2022 (76%).
E os investimentos também deverão recuar 6%, somando R$ 3,5 bilhões, o que representa 1,72% do faturamento.