Sondagem Conjuntural do Setor Elétrico e Eletrônico - Fevereiro/2023
Mesmo com a melhora no abastecimento de componentes e matérias-primas e redução nos gargalos logísticos, os principais indicadores do setor permanecem desfavoráveis, apontando nova piora na sondagem de fevereiro
A sondagem de conjuntura referente ao mês de fevereiro de 2023 mostrou que os principais indicadores da indústria elétrica e eletrônica permanecem desfavoráveis, apontando nova piora ao comparar com os resultados verificados na pesquisa anterior.
Vale lembrar que esse esfriamento da atividade já vem sendo observado desde o levantamento de outubro do ano passado.
Especificamente nesta última pesquisa foram observados que alguns indicadores chegaram a registrar os piores resultados dos últimos 2 anos e meio, superando apenas os números apontados em abril e maio de 2020, período em que a Covid-19 chegou ao Brasil.
Este foi o caso do número de entrevistadas que indicaram crescimento nas vendas/encomendas em relação a igual período do ano anterior. Na sondagem de fevereiro de 2023, 38% das empresas deram essa indicação. Este resultado foi 2 pontos percentuais abaixo do apontado na pesquisa anterior (40%) e foi o menor desde maio de 2020 (20%).
Ao comparar com o mês imediatamente anterior, o número de empresas que informaram elevação das vendas/encomendas recuou de 40% na sondagem de janeiro para 34% nesta última pesquisa.
Também foi desfavorável a elevação de 38% para 53% no número de empresas que apontaram negócios abaixo das expectativas. Também neste caso foi registrado o maior percentual desde maio de 2020 (63%).
A utilização da capacidade instalada recuou de 76% para 75% nos dois últimos levantamentos, retornando ao patamar observado no final do ano passado (75%). Este percentual foi o menor desde agosto de 2020, que estava em 73%.
Outro indicador negativo foi a diminuição de 16% para 9% no total de entrevistadas que relataram elevação no quadro de funcionários - menor número de empresas desde maio de 2020 (4%).
Notou-se também aumento de 9% para 14% nas indicações de redução no número de trabalhadores. Mesmo assim, a maior parte das empresas, ou seja, 77% das pesquisadas citaram estabilidade no nível de emprego.
Porém, conforme dados do Novo Caged, o número de empregados da indústria elétrica e eletrônica aumentou em 1.181 postos de trabalho no mês de janeiro de 2023, totalizando 268,9 mil funcionários. Esta elevação representa o saldo, ou seja, a diferença entre admissões e desligamentos. Nota-se que este acréscimo interrompeu as duas quedas consecutivas no nível de emprego do setor, apresentadas nos meses de novembro e dezembro de 2022.
Ainda no que se refere à sondagem de fevereiro de 2023 realizada pela Abinee, verificou-se elevação no número de empresas com estoques acima do normal. No caso de componentes e matérias-primas, essas indicações aumentaram de 25% para 30% das entrevistadas e nos produtos acabados, passaram de 26% para 33%.
No comércio internacional, aumentou de 27% para 33% o número de empresas que relataram redução nas exportações comparadas com igual período de 2022. Porém vale destacar que permaneceram em 33% as indicações de elevação nas vendas externas.
Segundo os dados da Secex/ME agregados pela Abinee, no mês de fevereiro de 2023, as exportações de produtos elétricos e eletrônicos cresceram 3% ao comparar com as vendas externas registradas no mesmo mês do ano passado. Apesar de positivo, este resultado foi inferior ao acréscimo de 19% observado em janeiro de 2023 também comparado ao igual período de 2022.
Essa sondagem também mostrou que 25% das entrevistadas citaram dificuldades na obtenção de financiamentos para capital de giro. Vale ressaltar que 58% das entrevistadas não utilizam esses instrumentos.
Neste último levantamento, 29% das pesquisadas relataram pressões em alguns custos, tais como de energia, água, impostos, entre outros. Este resultado foi inferior ao verificado na pesquisa anterior (33%), permanecendo bem abaixo dos 52% apontados no 1º semestre de 2022 (média).
Componentes e matérias-primas
Os últimos levantamentos realizados pela Abinee vêm mostrando redução nas dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas em função da falta destes itens no mercado. Nesta última pesquisa, 36% das empresas deram essa indicação. Este resultado foi 8 pontos percentuais abaixo do apontado na pesquisa anterior (44%) e foi o menor dos últimos dois anos e meio, quando havia atingido 29% das entrevistadas em julho de 2020. Vale lembrar que este percentual chegou a atingir cerca de 60% entre março e maio de 2022. É importante lembrar que esse resultado refere-se aos entraves decorrentes da falta de componentes eletrônicos e também de matérias-primas no mercado. Especificamente no caso de matérias-primas, tais como papelão, materiais plásticos, borracha, aço, cobre, entre outras, a redução no número de empresas com dificuldades na aquisição destes itens já vem sendo observada desde o início de 2022, atingindo apenas 4% das entrevistadas neste último levantamento. Vale destacar que este percentual permanece muito distante dos mais de 50% verificados no início de 2021. Notou-se, nessa última sondagem, que permaneceu em 47% o número de informantes que continuam sentindo pressões acima do normal nos custos de componentes e matérias-primas. Observa-se que, com exceção do mês de dezembro de 2022 (40%), este foi o menor percentual desde o início da pandemia, em março de 2020 (43%). Vale lembrar que este percentual chegou a superar 90% das indicações em meados de 2021. Mesmo com a melhora da situação observada nos últimos meses, a falta de componentes eletrônicos no mercado continua trazendo algumas dificuldades para as empresas do setor, principalmente gerando atraso na produção e na entrega, citado por 39% das entrevistadas. Destaca-se que as indicações de paralisação parcial da produção vêm caindo desde o início de 2022 e foram relatadas por apenas 3% das pesquisadas neste último levantamento. É importante ressaltar que nenhuma empresa informou paralisação total da produção devido à falta de componentes eletrônicos desde o início desta questão na sondagem, em fevereiro de 2021.
Semicondutores
Especificamente no caso de semicondutores, 47% das entrevistadas que utilizam esses componentes na sua produção relataram dificuldades na aquisição destes itens no mercado. Este resultado foi 14 pontos percentuais abaixo do verificado na pesquisa anterior (61%) e foi o menor registrado desde o início dessa pergunta na sondagem, em maio de 2021.
Apesar da melhora, essa situação ainda não voltou à normalidade e continua afetando a produção da indústria elétrica e eletrônica.
Neste último levantamento, a maior parte das entrevistadas (64%) projetam normalidade no abastecimento de componentes semicondutores para 2023, sendo que 16% acreditam na normalidade dessa situação ainda no 1º semestre e 48%, no 2º semestre de 2023.
Ainda referente a essa questão, a regularidade no abastecimento de semicondutores deverá ocorrer a partir de 2024 para 16% das pesquisadas e 20% estão sem previsão para a normalidade dessa situação.
Gargalos logísticos
Nos últimos meses também vem amenizando as dificuldades das empresas do setor em relação a gargalos logísticos.
Nas importações, considerando todos os modais de transporte, 32% das empresas indicaram atrasos no recebimento de cargas. Este resultado foi 4 pontos percentuais abaixo do apontado na sondagem anterior (36%) e foi o menor desde o início dessa pergunta na sondagem, em abril de 2021.
No caso das exportações, diminuiu de 37% para 27% o percentual de pesquisadas que relataram problemas no envio de cargas nas exportações marítimas, menor resultado desde abril de 2021 (26%).
Expectativas
Os empresários do setor permanecem muito cautelosos neste início de ano, tanto em relação ao cenário interno quanto ao internacional.
No cenário interno, a principais preocupações neste momento são as incertezas em relação ao novo governo, especialmente no que se refere as novas regras fiscais que irão substituir o teto de gastos, a inflação e a elevada taxa de juros.
Além disso, o cenário internacional também causa apreensão devido aos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia e as projeções de crescimentos mais modestos para 2023 em diversos países, especialmente Estados Unidos e países da Europa.
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) do Setor Eletroeletrônico, conforme dados da CNI agregados pela Abinee, recuou 0,2 ponto no mês de março de 2023 em relação ao mês imediatamente anterior, atingindo 50,9 pontos.
Esta ligeira queda ocorreu após a melhora apontada no mês de janeiro, que fez com que o ICEI do setor voltasse a cruzar a linha divisória dos 50 pontos.
Lembrando que o ICEI varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 pontos mostram confiança do empresário industrial e abaixo de 50 pontos apontam falta de confiança.
Retomando a avaliação dos dados verificados na última sondagem da Abinee, mesmo com a piora nos indicadores registrada nos últimos levantamentos, a maior parte das entrevistadas projetam crescimento para vendas tanto para o mês de março de 2023 (56%), quanto para o 1º trimestre de 2023 (51%) e para o 1º semestre de 2023 (57%), sempre comparados aos iguais períodos de 2022.
Para o ano 2023, 72% das empresas pesquisadas projetam crescimento. Este foi a quarta elevação seguida neste percentual, que estava em 58% no mês de outubro de 2022.
Ainda para este ano, 17% esperam estabilidade e 11% estão prevendo queda.
Anexos
Os resultados detalhados desta sondagem e a série histórica do levantamento estão disponíveis no site da Abinee em Economia e Estatísticas - Base de Dados Econômicos.