Desempenho Setorial
Comportamento da Indústria Elétrica e Eletrônica em 2022
Desempenho do Setor - Dados atualizados em Março de 2023
Atividade do Setor
O faturamento do setor eletroeletrônico atingiu R$ 218,2 bilhões no ano de 2022, com crescimento nominal de 3% em relação ao realizado em 2021 (R$ 211,3 bilhões).
Em termos reais, ou seja, descontando a inflação do setor de 6%, a indústria elétrica e eletrônica apontou queda de 3%.
A produção de bens do setor em 2022 caiu 5,8% em relação ao ano anterior. Porém, destaca-se que o fraco desempenho dos eletrodomésticos agravou este resultado.
Vale ressaltar que, caso fossem excluídos os eletrodomésticos, a produção dos demais bens do setor eletroeletrônico recuaria 2,3% em 2022.
Por sua vez, o número de empregados no setor passou de 263,7 mil em dezembro de 2021 para 267,7 mil funcionários no final de 2022, representando elevação de 2%, ou seja, incremento de 4 mil trabalhadores.
A utilização da capacidade instalada passou de 79% em dezembro de 2021 para 76% no final de 2022.
As exportações de produtos eletroeletrônicos aumentaram 16%, totalizando US$ 6,7 bilhões, com crescimento em quase todas as áreas, com exceção de Utilidades Domésticas (-4%).
Ainda em relação às exportações, destacaram-se os fortes acréscimos nas vendas externas de Material Elétrico de Instalação (+59%) e de Informática (+52%), influenciadas pelas exportações de disjuntores e caixas registradoras, respectivamente.
Destacaram-se também as exportações de motores e geradores que totalizaram US$ 788 milhões em 2022, 43% acima de 2021. Dessa forma, os motores e geradores passaram da 3ª posição entre os produtos mais exportados do setor em 2021 para a 1ª posição em 2022.
Os principais destinos das exportações do setor continuaram sendo os países da Aladi e os Estados Unidos, que, juntos, representaram 70% do total.
As importações aumentaram 12% em 2022, somando US$ 45,3 bilhões. Observou-se crescimento em quase todas as áreas do setor, com exceção de Utilidades Domésticas (-8%), refletindo a queda da atividade dessa área.
Por outro lado, destacou-se o forte acréscimo de 76% nas importações de GTD, que somaram US$ 6,2 bilhões.
Este resultado foi influenciado pelo crescimento expressivo de 119% das importações de módulos fotovoltaicos, que passaram de US$ 2,3 bilhões em 2021 para US$ 5,1 bilhões em 2022.
Com isso, os módulos fotovoltaicos ocupam a segunda posição no ranking de produtos mais importados do setor, ficando depois somente dos semicondutores (US$ 6,3 bilhões).
Porém, este montante de semicondutores não se refere somente às importações de um produto, mas sim às compras externas de um grupo de produtos que são classificados como semicondutores, tais como: diodos, transistores, tiristores, circuitos integrados eletrônicos, memórias, etc. Portanto, individualmente, o produto mais importado do setor foi o módulo fotovoltaico, que também ficou na 4ª posição no total geral das importações do Brasil.
Os países da Ásia foram as principais origens das importações de bens do setor, participando com 74% do total, sendo que apenas a China representou 51% do total. Dessa forma, o déficit da balança comercial atingiu US$ 38,6 bilhões, resultado 11% superior ao apresentado no ano anterior (US$ 34,7 bilhões).
Os investimentos cresceram 4%, totalizando R$ 3,8 bilhões, o que representa 1,72% do faturamento.
Desempenho por áreas
O desempenho do setor eletroeletrônico em 2022 foi consequência de movimentos distintos nos diversos segmentos do setor.
Por um lado, as áreas fabricantes de bens de capital e infraestrutura apontaram crescimentos em termos reais, ou seja, já descontada a inflação, tais como Automação Industrial (+14%), Equipamentos Industriais (+10%), GTD – Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica (+13%) e infraestrutura em Telecomunicações (+7%).
Já as áreas fabricantes de bens de consumo tiveram desempenhos mais modestos, assim como: Informática (-7%), Utilidades Domésticas (-14%), Material Elétrico de Instalação (-2%), Dispositivos Móveis Celulares (-5%) e consequentemente os Componentes Elétricos e Eletrônicos (-3%).
Em Automação Industrial, a necessidade de digitalização da indústria, processo que foi acelerado com a pandemia, continuou estimulando os negócios desta área. Além disso, a busca de maior eficiência de diversos setores da economia também vem contribuindo com os negócios de Automação.
O desempenho da área de Equipamentos Industriais, além do mercado interno, também contou com as vendas internacionais. Vale destacar as já citadas exportações de motores e geradores que foram os principais produtos mais exportados do setor.
No caso de GTD, o segmento de geração contou com o leilão de energia nova em fontes hidráulica, eólica, solar, biomassa que ocorreu em 2022, com destaque para os resíduos sólidos como nova fonte de energia na matriz brasileira.
Os negócios na transmissão foram estimulados pela continuidade dos leilões e das obras que já estavam em andamento devido aos leilões ocorridos nos anos anteriores. Ressalta-se que os leilões ocorridos em 2022 deverão fazer frente ao fornecimento de equipamentos para os próximos 3 a 5 anos.
E na distribuição foi observado aumento dos investimentos das concessionárias que contaram com a elevação do consumo tanto comercial quanto industrial, decorrente da volta de projetos que estavam parados devido à pandemia.
O segmento de infraestrutura em Telecomunicações contou com os investimentos para a preparação da rede para suportar a utilização da tecnologia 5G.
Já o mercado de telefones celulares, apesar de registrar crescimento de 1% no faturamento nominal, apontou queda de 5% em unidades. Conforme dados do IDC, o mercado destes aparelhos atingiu 40 milhões de unidades em 2022.
Destaca-se a preocupação com o aumento do mercado não oficial de smartphones, que atingiu cerca de 3 milhões de unidades em 2022. Esses aparelhos aumentaram sua participação no mercado total de smartphones de menos de 2% em 2018 para cerca de 8%, em média, nos últimos 4 anos.
Vale destacar que no ano de 2022, além dos telefones celulares, verificou-se que as demais áreas fabricantes de bens de consumo também apontaram desempenhos mais modestos.
A área de Informática encerrou 2022 com queda de 7% em relação a 2021. É importante destacar que essa retração ocorreu após dois crescimentos bem expressivos. Vale lembrar que no ano 2020, enquanto muitos setores haviam paralisado a atividade decorrente das medidas restritivas em função da pandemia de Covid-19, as vendas de bens de informática, principalmente de notebooks estavam muito aquecidas devido à necessidade de se atender as demandas de home office e do ensino a distância.
Destaca-se também que esse comportamento se repetiu em 2021. Portanto, o faturamento nominal da área de Informática cresceu 78% no acumulado de 2020 e 2021 em relação a 2019. Dessa forma, já era esperado que a atividade dessa área diminuísse o ritmo de incremento em 2022 e 2023, para voltar a crescer nos próximos anos de forma menos expressiva e mais constante.
Ao avaliar em unidades, conforme os dados do IDC, o mercado de notebooks recuou 7% em 2022, atingindo 6,6 milhões de unidades. Essa retração ocorreu após a elevação de 22% em 2020 e aumento de 40% em 2021.
Já o mercado de desktops atingiu 2,0 milhões de unidades, com incremento de 20% em relação a 2021. Neste caso, destacaram-se as compras realizadas pelo mercado corporativo que apresentou resultado melhor do que o mercado de consumo.
O mercado de tablets somou 2,8 milhões de unidades, 17% abaixo do verificado no ano anterior. Nota-se que o ano 2021 pode ser considerado uma base de comparação forte, uma vez que ocorreram muitas compras governamentais naquele período para o segmento de educação, movimento que não foi repetido em 2022.
A área de Material Elétrico de Instalação caiu 2% em 2022. Neste caso também os negócios foram aquecidos em 2020 e 2021 influenciados pelas pequenas obras e reformas, conhecidas como “formiguinhas”, estimuladas pelo home office. Vale lembrar que no ano de 2020 a área de Material Elétrico foi considerada atividade essencial, portanto permaneceu em funcionamento mesmo nos períodos de isolamento social.
No caso da área de Utilidades Domésticas (-14%), o fraco desempenho em 2022 também foi influenciado pela retração no mercado de consumo. Neste caso, as compras também haviam sido antecipadas em 2020 e 2021, período em que as pessoas estavam passando mais tempo em casa, e portanto, investindo mais em equipamentos de entretenimento.
O faturamento das indústrias fabricantes de Componentes Elétricos e Eletrônicos recuou 3%, influenciada pelo modesto desempenho das áreas de bens de consumo.
Principais Dificuldades do Ano de 2022
A pandemia de Covid-19 gerou uma desorganização nas cadeias produtivas globais. Com isso, desde 2020, as empresas começaram a ter dificuldades na aquisição de componentes e matérias-primas em função da falta destes itens no mercado.
Especificamente no caso de matérias-primas, tais como papelão, materiais plásticos, borracha, aço, cobre, entre outras, já foi possível verificar melhora nessa situação desde o início de 2022. Conforme as sondagens realizadas mensalmente pela Abinee, 10% das entrevistadas (média das pesquisas de 2022) relataram dificuldades na aquisição de matérias-primas, resultado muito inferior aos mais de 60% informados em 2020 e 2021.
No caso de semicondutores, nas sondagens realizadas pela Abinee, o percentual de entrevistadas que relataram dificuldades na aquisição destes itens no mercado, passou de 71% no 1º semestre de 2022, para 62% no 2º semestre de 2022.
Apesar da melhora, este número permanece elevado e continua afetando a produção da indústria elétrica e eletrônica.
Conforme levantamento realizado pela Abinee no início de 2023, a maior parte das entrevistadas (67%) projetam a normalidade no abastecimento de componentes semicondutores para 2023, sendo que para 26% ainda no 1º semestre e para 41%, no 2º semestre de 2023.
Ainda referente a essa questão, 21% acreditam que a normalidade dessa situação ocorra somente a partir de 2024 e 12% das pesquisadas estão sem previsão.
Além disso, as empresas do setor também estão sendo impactadas por gargalos logísticos, que começaram na pandemia e foram agravados pelos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia e pela operação padrão dos auditores da Receita Federal. Esses gargalos causaram alguns entraves para as empresas do setor, tais como: aumentos expressivos nos preços dos fretes, dificuldade na reserva de contêineres, atrasos no envio e recebimento de cargas, elevação nos custos de armazenamento, entre outros.
Outro fator de atenção durante o ano de 2022 continuou sendo o controle da pandemia no Brasil e no mundo, principalmente devido aos “lockdowns” aplicados em algumas regiões da China devido a política de Covid zero naquele país.
Perspectivas
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) do Setor Eletroeletrônico, conforme dados da CNI agregados pela Abinee, aumentou 5,3 pontos no mês de fevereiro de 2023 em relação ao mês imediatamente anterior, atingindo 51,1 pontos.
Este crescimento interrompeu o movimento de quatro quedas consecutivas. Com essa recuperação, o ICEI do setor volta a cruzar a linha divisória dos 50 pontos, que havia sido rompida no mês de janeiro de 2023 (45,8 pontos).
Lembrando que o ICEI varia de 0 a 100 pontos, sendo que valores acima de 50 pontos mostram confiança do empresário industrial e abaixo de 50 pontos apontam falta de confiança.
Vale ressaltar que os empresários do setor estão muito cautelosos tanto em relação ao cenário interno quanto ao internacional.
No cenário interno, a principal preocupação neste momento é a incerteza em relação ao novo governo, especialmente no que se refere à questão fiscal.
Além disso, o cenário internacional também causa apreensão devido aos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia e as projeções de crescimentos mais modestos para 2023 em diversos países, principalmente Estados Unidos e países da Europa.
Conforme dados da sondagem consolidada pela Abinee, 69% das empresas do setor projetam crescimento para as vendas da indústria elétrica e eletrônica para o ano 2023, 18% esperam estabilidade e 13% estão prevendo queda.
O ano de 2023 será um ano com muitos desafios. Os indicadores econômicos, conforme Boletim Focus do Banco Central, mostram um cenário de incertezas, com crescimento do PIB mais modesto, por volta de 0,9%, inflação em torno de 6% ao ano e taxa Selic no final do período de 12,75% ao ano.
Com isso, a indústria eletroeletrônica também deverá apontar resultados mais discretos.